Variáveis a serem analizadas e controladas: pH
O valor de pH indica o grau de acidez ou alcalinidade da água e sua variação atua sobre o metabolismo e processos fisiológicos dos peixes. O pH é quantificado em uma escala numérica que vai do 0 ao 14. Valores abaixo de 7,0 indicam pH ácido e valores maiores que 7,0 indicam água alcalina. Quando há um equilíbrio entre as substâncias ácidas e alcalinas tem-se pH neutro (7,0). A exigência dos peixes por determinado pH varia bastante, especialmente em função do local de procedência da espécie. A maioria das espécies de peixe adapta-se bem a uma água com pH próximo do neutro, entre 6,8 e 7,2. Esta faixa deve ser mantida em aquários comunitários, com peixes de diferentes preferências. Deve-se verificar o pH pelo menos uma vez por semana, com de um teste de ph vendido em lojas de aquarismo e, em caso de necessidade, fazer as correções com a aplicação de acidificante (quando a água estiver com pH acima do desejado) ou de alcalinizante (quando a água estiver com pH abaixo do desejado). Em aquários recém montados ou no qual tenha sido feita procedido troca parcial de água, o monitoramento do pH deve ser inicialmente diário, diminuindo a frequência gradativamente até chegar na verificação semanal. Qualquer correção de pH deve ser feita de forma gradativa. Uma mudança brusca pode ocasionar um choque químico e causar sérios problemas aos peixes. Deve-se diluir bem os corretivos antes de fazer a aplicação no aquário.
Amônia e Nitrito
A matéria orgânica acumulada no aquário, resultante de restos de comida, dejetos dos peixes e plantas mortas, começa a ser decomposta por ação de bactérias e fungos presentes no filtro, formando a amônia (NH3 / NH4+), composto tóxico para os peixes. A decomposição continua, onde a amônia, por ação das bactérias do gênero Nitrosomonas, é oxidada a nitrito (NO2-), também tóxico. Seguindo o ciclo, as bactérias do gênero Nitrobacter oxidam o nitrito a nitrato (NO3), relativamente bem menos tóxico que seus precursores e que é utilizado como nutriente por algas e plantas, fechando o ciclo. O problema é que em muitos casos não se consegue um perfeito equilíbrio biológico no aquário, resultando em teores elevados destes compostos tóxicos aos peixes. Níveis elevados de amônia causam estresse aos peixes, além de danos nas guelras, destruição das nadadeiras, aumento da susceptibilidade a doenças e até a morte. O nitrito age sobre a respiração, podendo matar o peixe por asfixia.
Para monitorar e corrigir a concentração destes compostos existem também testes e produtos para auxiliá-lo. Em aquários em que os peixes estejam apresentando problemas de doenças ou mortalidade, a frequência dos testes deve ser aumentada. Quando teores elevados forem detectados, deve-se verificar a eficiência da filtragem e eventualmente promover sifonagens e trocas parciais de água. Também é preciso avaliar a possibilidade de excesso de alimentação ou população de peixes acima da recomendada. Níveis elevados de nitrito não significam, necessariamente, níveis elevados de seu precursor amônia. Daí a necessidade do monitoramento das duas variáveis.
Oxigênio Dissolvido
Além da importância vital do oxigênio dissolvido na água do aquário, para a respiração e consequente sobrevivência dos peixes, este gás exerce outra função fundamental no equilíbrio do aquário, que é permitir a ação das bactérias aeróbicas responsáveis pela decomposição da matéria orgânica e funcionamento do ciclo do nitrogênio. O monitoramento do teor de oxigênio dissolvido é fundamental para se evitar surpresas desagradáveis. Mesmo em aquários equipados com oxigenadores, podem ocorrer níveis abaixo do recomendado, principalmente em aquários com filtragem insuficiente, com excesso de peixes ou que estejam muito tempo sem uma limpeza total ou sifonagem de fundo. A verificação dos níveis de oxigênio podem ser feita através de testes também. Em aquários bem equilibrados o teste deve ser realizado semanalmente para monitorar uma possível tendência de queda dos níveis deste gás. Já em aquários pré-dispostos a níveis baixos, como os citados anteriormente, o acompanhamento deve ser mais frequente, conforme o comportamento dos peixes. Quando forem detectados níveis baixos de oxigênio dissolvido, deve-se verificar a eficiência da filtragem e oxigenação e eventualmente realizar sifonagem de fundo com troca parcial de água. Em casos extremos, quando os peixes já estiverem abocanhando ar na superfície da água, uma troca emergencial de água deve ser realizada.
Dureza Total e Dureza em Carbonatos
A Dureza Total da água (GH) é determinada pela concentração de diversos sais, principalmente sais de cálcio e magnésio. Quanto maior a concentração destes sais diz-se que a água é mais "dura". Uma concentração baixa indica uma água menos "dura" ou mais "branda". A dureza da água influencia uma série de funções orgânicas dos peixes e é determinada com o uso de testes também. Apesar de normalmente flexíveis quanto aos valores de dureza da água, algumas espécies apresentam certa exigência, principalmente para determinadas funções, como a reprodução. O teste de dureza total deve ser feito sempre na montagem ou quando for realizada troca de água do aquário. Durante a manutenção pode ser realizado a cada duas semanas. A maioria dos peixes ornamentais preferem água dita branda. Quando valores dos testes indicarem água com dureza muito distante do valor desejado, pode-se trocar parte dela por outra água com inverso valor de dureza. A Dureza em Carbonatos (KH) indica a concentração de carbonatos e bicarbonatos de cálcio e magnésio dissolvidos na água. Esta variável está intimamente relacionada ao pH, pois indica a capacidade tampão da água, ou seja, a maior ou menor resistência em alterar o pH. Para determinar a dureza em carbonatos, usa-se um teste específico. A frequência de realização dos testes pode ser a mesma indicada para a dureza total. Em aquários com tendência em alterar muito o pH, o monitoramento deve ser mais frequente. A avaliação da dureza em carbonatos também adquire importância para determinação da concentração de gás carbônico (CO2) na água do aquário. A concentração de CO2 é obtida cruzando na tabela valores de pH e KH. A avaliação da concentração de CO2 é importante principalmente em aquários onde se busca um bom desenvolvimento de plantas, já que as plantas utilizam o CO2 como principal fonte de carbono para seu desenvolvimento. Esta variável também irá indicar uma possível tendência em desenvolvimento exagerado de algas no aquário.
Alguns cuidados importantes para a manutenção da qualidade da água
Evitar excesso de alimento
O excesso de alimento é uma das principais causas relacionadas a problemas de alteração da qualidade da água. A quantidade de ração a ser fornecida varia com o tamanho e quantidade de peixes e deve sempre obedecer a seguinte regra: A cada vez que os peixes forem alimentados, fornecer uma quantidade que seja totalmente consumida em, no máximo, 5 minutos. Em caso de viagem não deve-se fornecer uma quantidade maior de alimento, com o intuito de sobrar para outros dias. Esta prática é totalmente desaconselhada, pois apenas algumas horas após o fornecimento, os peixes não mais aceitarão aquela ração, que irá sobrar e causar os vários problemas já citados. Para o período de ausência deve-se utilizar pastilhas alimentadoras que liberam ração lentamente, a medida que se dissolvem. Além de alimento granulado, alguns alimentadores contém sulfato de cálcio, que ajuda na estabilização da água, principalmente no que diz respeito a níveis de pH.
Evitar super povoamento
A população de peixes deve seguir a proporção aproximada de 1 litro de água para cada centímetro de peixe. Desta forma serão evitados os problemas já descritos de excesso de matéria orgânica e consequentes taxas elevadas de amônia e nitrito.
Não mexer excessivamente no aquário
Mesmo sabendo da necessidade de, vez por outra, ter que mexer no aquário para realizar tarefas como limpeza interna dos vidros, sifonagem de fundo e manutenção de plantas, deve-se sempre evitar mexer desnecessariamente ou muito frequentemente no aquário. Desta forma evita-se, além do estresse dos peixes, alteração no funcionamento do filtro biológico e consequentes problemas com a qualidade da água.
Realizar sifonagens de fundo e trocas parciais de água
Como o filtro de placas ou biológico utiliza o próprio substrato de fundo como elemento filtrante, sua manutenção consiste na sifonagem de fundo, realizada com sifão simples de tubo e mangueira. O objetivo é retirar o excesso de matéria orgânica acumulada entre o substrato. A frequência desta sifonagem e consequente troca parcial de água depende das condições particulares de cada aquário, mas podemos citar o intervalo de duas semanas como recomendação geral. Cerca de 20 % da água do aquário deve ser trocada a cada sifonagem, adotando-se com a água a ser adicionada os cuidados relacionados ao cloro presente na água da torneira. Deve-se também respeitar os valores de temperatura e pH da água restante no aquário. Para os outros tipos de filtro é necessária a limpeza e/ou troca dos elementos filtrantes na frequência recomendada pelos fabricantes ou conforme as condições de cada aquário.
Não usar peças decorativas que possam alterar a qualidade da água
Durante a montagem e decoração de aquários de água doce, deve-se resistir à beleza de muitas peças decorativas, como pedras tipo cristal e conchas ou corais marinhos. Apesar de enfeitarem o aquário, podem alterar muito a qualidade da água, principalmente o pH. Caso se queira, de todo modo, usar este tipo de material na decoração, deve-se testar sua capacidade em alterar o pH da água antes de introduzi-los definitivamente no aquário.
Prevenir problemas em aquaterrários
Os aquaterrários, normalmente usados para manutenção de pequenas tartarugas aquáticas, apresentam uma pré disposição em alterar as variáveis de qualidade da água, em função do elevado metabolismo destes animais. Deve-se frequentemente, além de monitorar as variáveis, usar condicionadores de água e um suplemento mineral e vitamínico para tartarugas aquáticas. Em forma de pastilha que se dissolve lentamente na água, este produto, além de fonte de minerais e vitaminas, age contra a forte tendência de acidificação destas águas, e inibi o aumento excessivo dos níveis de amônia e nitrito.