Plantas
Boas intenções I e II
Reparemos com atenção na imagem que se segue...
Trata-se de um dos mais belos panoramas que a Estrela nos pode oferecer, tantas vezes retratado em postais. Em primeiro plano a Nave de Santo António, ao centro temos o Poio do Judeu (enorme bloco errático com um volume calculado de 150 metros cúbicos) e, no limite superior direito, o Cântaro Gordo.
No entanto, há algo de errado nesta fotografia; mais perceptível se a ampliarem...são as manchas azuis em primeiro plano por entre o arroxeado das urzes.
O blogue O Cântaro Zangado resumiu, e bem, esta situação, designando-a de lixo bem intencionado (ver aqui).
Qual a origem destas redes e suportes metálicos? Estes desperdícios resultam de uma das acções do Projecto Life "Serra da Estrela", levado a cabo pela Associação de Produtores Florestais do Paul (APFP).
Vejamos, nas palavras da própria Associação, qual era o objectivo desta acção: " Reactivação das canadas - Canada é o termo utilizado tradicionalmente na região para designar zonas de passagem, muito utilizadas pelas populações, sobretudo pelos pastores com os seus rebanhos que se deslocam em busca de pastos (...) A reactivação das canadas foi feita através da limpeza de matos com motorroçadoras, numa faixa envolvente de aproximadamente 20 m. Ao longo das bermas das canadas reabertas foram plantados ao covacho, 5700 carvalhos pardos da beira (Quercus pyrenaica) de raiz nua e em torrão (...) Os carvalhos plantados foram conduzidos com 2 tutores metálicos e protegidas com protectores individuais de rede verde com 80 cm de altura, de modo a resistirem aos ventos fortes, à neve e às investidas do gado."
Como o Cântaro Zangado já tinha feito notar, na sua maioria os carvalhos não sobreviveram e o que resta, os suportes metálicos e as respectivas redes, resume-se a lixo bem intencionado espalhado por várias zonas da Serra.
Evidentemente que este facto não retira mérito à iniciativa da APFP e, já que não fora por outros motivos, esta acção serviu pelo menos para retirar ilações quanto à melhor forma de proceder a uma reflorestação eficaz a esta altitude na Serra da Estrela.
No entanto, exige-se à APFP que não se limite a retirar essas conclusões e que proceda, no mais curto espaço de tempo, à recolha das redes e suportes metálicos...não apenas pelo ambiente mas também pela própria imagem da APFP perante a opinião pública.
P.S. - E, por falar em boas intenções, não pude deixar de ficar abismado com o que li no Notícias da Covilhã desta semana. Na página 4 do referido semanário, podemos ler que os municípios cujo território pertence ao Parque Natural da Serra da Estrela (Celorico da Beira, Covilhã, Gouveia, Guarda, Manteigas e Seia), decidiram encomendar a uma equipa da Escola de Gestão do Porto, um estudo que "arranje argumentos que possam vir a canalizar mais investimentos para a nossa zona" e que "faça um conjunto de propostas de dinamização do território de montanha neste conjunto de municípios".
Dito assim tudo parece fazer sentido, combatendo-se a tradicionalmente portuguesa falta de planeamento...mas, corrijam-me se estiver enganado, não foram estes mesmos municípios que ainda há bem pouco tempo e, para tentar contrariar a falta de uma visão estratégica conjunta sobre o sector do turismo na Serra, tinham encomendado um estudo (Plano Estratégico de Desenvolvimento Integrado do Turismo na Serra da Estrela), à Universidade da Beira Interior?
O qual nem sequer chegou a ser arquivado no fundo da gaveta, pois como provavelmente não referia o que algumas câmaras municipais ambicionavam, estas ignoraram a própria apresentação pública do documento (documento, sublinho, mandado executar a seu pedido)?
E se este novo estudo não vier defender as estâncias de esqui, os teleféricos, as estradas verdes, os casinos, manda-se fazer outro?
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