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Efeitos nefastos da eucaliptização (N267, Monchique - S. Marcos da Serra)
O "Público" da última Sexta-feira trazia, com chamada à 1ª página, um alerta (utilizando a expressão do diário) da Portucel: "Madeira nacional só cobre metade da procura das celuloses".
Resumidamente, o problema é o seguinte:
- As florestas (entenda-se por florestas as matas de eucaliptos) nacionais não vão conseguir corresponder às necessidades das celuloses. Resta a importação, mais cara e que oferece menos qualidade.
Parece-me a mim que, mesmo num sector onde Portugal gosta de se considerar na vanguarda, subsistem alguns tiques tipicamente lusitanos, como a falta de planeamento a médio e longo prazo, se não vejamos: primeiro, a indústria anuncia avultados investimentos para aumentar a produção, de seguida apercebe-se que o volume total (de madeira de eucalipto) decresceu em Portugal, nos últimos anos, cerca de 5,4 milhões de metros cúbicos.
Mais uma magistral lição de planeamento e estratégia à portuguesa!
- Claro que a anterior constatação pressupõe a procura de soluções; está bem de ver o que estes senhores propõem: plantar mais eucaliptos. Magistral! Sobretudo se atendermos ao facto de que nos últimos dez anos arderam 119 000 hectares de eucalipto.
Vamos lá a ver se nos entendemos...não vou desatar numa fúria fundamentalista anti-eucalipto, mas há hoje alguns pontos que me parecem inquestionáveis:
- nos últimos anos, a área coberta por eucalipto cresceu desmesuradamente em muitas zonas do nosso país, ocupando, em muitos casos, terrenos sem a mínima aptidão para a espécie e, noutros, ocupando solos de elevada capacidade agrícola;
- o eucalipto promove o despovoamento do que resta do nosso mundo rural (é uma cultura que não exige praticamente nenhum tipo de manutenção e da qual não se retiram outros produtos) e a desertificação dos solos (nomeadamente através de desastrosas técnicas de movimentação de solos aquando da plantação - ver fotos);
- apesar dos milhões gastos pela indústria, nomeadamente na vigilância das matas privadas de eucaliptos, estas têm sido devoradas pelas chamas; num país com um clima mediterrânico, quando o Verão atinge o pico do estio é difícil controlar a situação (em Agosto passado chegaram a ocorrer mais de 500 ignições simultâneas...); claro que a isto se junta, a falta de planeamento florestal e o desordenamento do território (litoral caótico; interior abandonado).
Agora, sejamos honestos...num eucaliptal, dada a elevada produção de óleos essenciais altamente inflamáveis que esta espécie produz, se um incêndio atinge determinadas proporções, nada o detém! Vejam o que aconteceu o Verão passado na Serra de Ossa ou há dois anos em Coimbra! Venham lá os aviões que vierem, só não vê quem não quer ver...
- apesar deste diagnóstico, concordo que a indústria da celulose, os rendimentos que gera para o país e os empregos que promove, são fundamentais para Portugal. Mas esta não pode continuar a procurar sustentar-se no que é, ambiental e economicamente inviável, ou seja, a expansão do eucaliptal no nosso país.
Com certeza que, em certas condições, há espaço para esta espécie em determinados locais mas promover o continuar da expansão desta espécie (nas palavras do "Público" para "solos agrícolas mais férteis...") é não ter ainda percebido nada...depois de milhares de hectares calcinados, de vidas humanas perdidas, não se compreendeu ainda o essencial da questão.
Claro que também não defendo que sustentemos a indústria nacional de celulose com base na eucaliptização de países do chamado 3º mundo (ainda que cada vez mais tenha a certeza de que também pertencemos a esse mundo...).
Se a indústria de celulose tem um problema de sustentabilidade, que arranje os gestores capazes de lhe dar uma resposta à altura e não propondo soluções ruinosas para o ambiente (e para a economia) deste país...a "indústria nacional de piroverões" não precisa de mais ajudas, é já hoje um negócio bem pujante!
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