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Como brasileiro eu simplesmente falaria ...
Autor: Cristovam Buarque
Arte & Cultura
28/11/11 14:58 - Atualizado em 28/11/11 14:58
Como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia.
Por  mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse  patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humanista, sentindo o risco  da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua  internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para  a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser  internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo  do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da  humanidade quanto a Amazônia é para o nosso futuro. Apesar disso, os  donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a  extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no  direito de queimar esse imenso patrimônio da humanidade.
Da mesma  forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser  internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres  humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um  país.
Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego  provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não  podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países  inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu  gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do  mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é  guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode  deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural  amazônico, possa ser manipulado e destruído pelo gosto de um  proprietário ou de um país.
Nesse momento, as Nações Unidas estão  realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram  dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA.  Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria  ser internacionalizada.
Pelo menos Manhatan deveria pertencer a  toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de  Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua  história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem  internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de  brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA.  Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas,  provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis  queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os  atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de  internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.  Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo  tenha possibilidade de ir à escola.
Internacionalizemos as  crianças tratando-as, todas elas como patrimônio que merece cuidados do  mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes  tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da humanidade,  eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram  quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a  internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como  brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.