Como distinguir os carvalhos entre si?
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Como distinguir os carvalhos entre si?


Folha de carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.)

A primeira dúvida que poderá surgir a quem pretende dar o seu contributo à campanha Um Milhão de Carvalhos para a Serra da Estrela, poderá ser como distinguir o carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.) dos restantes carvalhos que podemos encontrar nas paisagens serranas da Estrela.

São múltiplas as características que permitem distinguir as árvores entre si. Neste caso, as características das folhas são suficientes para que, mesmo uma pessoa sem grandes conhecimentos na área, consiga facilmente distinguir as espécies entre si.

O carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.) possui uma folha que se destaca por ser densamente aveludada na página inferior, o que resulta da presença de numerosos filamentos moles que lhe conferem uma textura lanosa (perceptível com o passar dos dedos). Esta característica torna quase impossível confundi-lo com os outros carvalhos presentes na paisagem portuguesa.

O carvalho-negral é abundante nos concelhos da Guarda, Pinhel, Sabugal e Trancoso. São comuns bons exemplares próximos de algumas das estradas do distrito, como a N221 (Guarda-Pinhel), N233 (Guarda-Sabugal) ou a N18-1 (Vale de Estrela-Valhelhas). Uma das melhores zonas é em redor da A23, na zona da Arrifana e entre a Guarda e as Aldeias de João Bragal.
Ainda no distrito da Guarda, mas no concelho de Manteigas, abunda na encosta da Pousada de S. Lourenço.

No concelho de Belmonte abunda na Serra da Esperança e nas imediações de Caria, na zona de fronteira entre este concelho e o da Covilhã (muitos destes carvalhais pertencem à Quinta de França e são visíveis da A23 entre os nós de Caria e Covilhã Norte).
No concelho da Covilhã a espécie é ainda frequente nas freguesias de Terlamonte, entre o Canhoso e a Vila do Carvalho.

Nas freguesias a norte da Serra da Gardunha, no concelho do Fundão, a espécie também é frequente em pequenos bosquetes ou a dividir campos agrícolas.

Folha de carvalho-alvarinho (Quercus robur L.)
As folhas de carvalho-alvarinho ou roble (Quercus robur L.), para além de não serem tão profundamente divididas como as do carvalho-negral, possuem um pecíolo* muito curto (geralmente não ultrapassa os 7 mm) e não possuem qualquer filamento, ou seja, em linguagem de botânicos dizem-se glabras.

* pecíolo - "pé" da folha, isto é, a estrutura que liga o limbo da folha à bainha ou directamente ao eixo.

O carvalho-alvarinho é autóctone da Serra da Estrela, em particular da vertente oeste (onde a secura estival é mitigada pelos frequentes nevoeiros matinais) mas pode surgir na vertente leste, como nas encostas sobranceiras à cidade da Covilhã. Neste caso, os elevados valores de precipitação anual atenuam os efeitos de um Verão menos húmido, garantindo a sobrevivência da espécie.

No entanto, esta espécie não ultrapassa de forma espontânea os 1000 m de altitude (mesmo nos maciços montanhosos do noroeste do país, como é o caso da Serra da Peneda). Como os esforços de reflorestação da campanha "Um Milhão de Carvalhos para a Serra da Estrela" se centram em zonas situadas entre os 1300 e os 1500 m, as bolotas a recolher deverão ser de carvalho-negral (que na Serra da Estrela chega a aparecer a 1700 m de altitude).


Folha de carvalho-americano (Quercus rubra L.)

Na Serra da Estrela podemos ainda encontrar um carvalho introduzido a partir dos Estados Unidos, o carvalho-americano (Quercus rubra L.). As folhas apresentam lobos triangulares e são desprovidas de filamentos (excepto nas axilas das nervuras da página inferior).

Na encosta da Covilhã, no cruzamento para a Rosa Negra (no local onde começa o Parque Natural), existem estes três tipos de carvalhos sendo, por este motivo, um bom local para observar as espécies e as diferenças existentes entre si. No entanto, como referi no início deste texto, a textura aveludada da página inferior da folha do carvalho-negral torna-o inconfundível ao tacto.

No entanto, locais como este podem apresentar outro problema, ou seja, como fazer a distinção das bolotas entre si? Sobretudo como ter a certeza que não estaremos a recolher sementes de carvalho-americano e a contribuir, ainda que de forma involuntária, para a propagação de uma espécie introduzida e que pode, no futuro, vir a revelar-se como invasora.

Na minha opinião, o melhor seria o leitor recolher uma bolota directamente de cada uma das árvores e estudar as respectivas diferenças em casa. No entanto, daqui a algumas semanas (quando começar o período de recolha das bolotas), pretendo escrever um outro texto, ilustrado com imagens das bolotas maduras de cada uma destas espécies, com vista a auxiliar na respectiva identificação.
De qualquer modo, e em relação ao carvalho-americano, convém sublinhar que este tem uma distribuição muito restrita dentro da área do Parque Natural, pelo que a probabilidade de recolher bolotas desta espécie por engano é diminuta desde que se tomem as precauções que referi.

P.S. - Na área do Parque Natural da Serra da Estrela e zonas limítrofes crescem duas outras espécies de carvalhos (Quercus) autóctones, mas de folha persistente, a azinheira (Quercus rotundifolia Lam.) e o sobreiro (Quercus suber L.).
Neste caso, tal como no caso do carvalho-alvarinho, apesar da azinheira e do sobreiro serem carvalhos autóctones da Serra da Estrela, não são árvores características de habitats acima dos 1300 m de altitude (domínio "absoluto" do negral).




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