Esta publicação esteve para ter apenas o título e a imagem. Mas não resisti...
Aparentemente, vou abrir um precedente falando de algo que, directa ou indirectamente, não parece estar relacionado com o mundo das árvores. Mas apenas "aparentemente"...
A verdade é que se as pessoas não me respeitarem como professor, não me respeitarão como pessoa e ser humano. Sem ser respeitado, de nada me servem as linhas que escrevo neste blogue, independentemente dos assuntos que aborde.
Acresce que eu não seria a pessoa que sou, incluindo o muito que amo as árvores, sem os professores que tive enquanto aluno. E, de entre todos eles, um em especial... O Professor, assim mesmo com "pê" maiúsculo, Jorge Paiva!
Todos os dias os professores salvam vidas...Penso na minha colega a quem uma aluna, com graves problemas emocionais por ter perdido um familiar, agradeceu por, literalmente, a ter mantido agarrada à vida.
Todos os dias há pequenas histórias como estas que morrem, onde têm que morrer, no anonimato.
Afinal de contas, os professores não são super-heróis. Há bons e maus profissionais como em todas as classes. Mas deixem-me desabafar que, apesar de todos os desânimos e frustrações, a maioria gosta do que faz e gosta mais de estar dentro de uma sala de aulas do que estar na sala de professores.
Resta então conhecer as causas da nossa revolta...
Com certeza que há coisas erradas neste modelo de avaliação dos professores que nos querem impor.
Como se pode querer rigor científico e pedagógico, quando pessoas de uma determinada área científica têm que avaliar pessoas de áreas científicas distintas (e, muitas vezes, com mais qualificações académicas)?
Como se pode acreditar num sistema que afecta a avaliação dos professores à taxa de abandono escolar, como se esta dependesse do “professor fazer o pino na sala de aula” e não de complexos factores económicos e sociais que escapam ao seu controlo?
Como se pode acreditar num sistema de avaliação que relaciona, de forma directa, a qualidade de um professor com os resultados dos alunos? Será um professor de Matemática duma escola de Lisboa, onde boa parte dos seus alunos tem explicações, melhor do que um colega do Interior rural do país, onde os alunos não dispõem das mesmas condições facilitadoras do sucesso?
Evidentemente que não estou a defender a “teoria dos professores coitadinhos”, teoria que não suporto, pois nem sempre os alunos que possuem melhores condições à partida são aqueles que alcançam melhores resultados.
E porquê?! Precisamente porque, por melhor que o professor seja, há certos factores humanos imprevisíveis que ele não consegue controlar. Explico de outra forma: um médico pode prescrever a medicação correcta a um paciente mas, de seguida, não o irá acompanhar diariamente para verificar se ele toma os medicamentos de forma correcta.
Logo, se o doente não tomar os medicamentos e não melhorar, o médico não pode, obviamente, ser responsabilizado. Isto deveria ser fácil de entender, mas pelos vistos não é…
Logo, um professor deve ser avaliado, não pelo facto de um seu determinado aluno ter tido negativa, mas por todas as estratégias que utilizou para evitar esse desfecho.
E, sejamos brutalmente sinceros e honestos, não é assistindo a 3 aulas de 45 minutos, num ano lectivo, que se retiram conclusões sobre as qualidades e defeitos de um professor.
Dito isto, esta avaliação é apenas mais um instrumento de uma “política de cosmética”, uma encenação, uma farsa burlesca montada apenas para manobrar a opinião pública, tentando passar a ideia de que o “governo se preocupa com a qualidade do ensino”.
Por amor de Deus, poupem-me à hipocrisia! Se querem melhorar a qualidade dos meus métodos de ensino, mandem à minha escola alguém de reconhecida competência científica e pedagógica que me assista a várias aulas; e que depois me diga tudo aquilo em que eu posso melhorar para ser melhor professor e ajudar os meus alunos.
Mas não me enviem mais das inspecções, como a que tivemos o ano passado na minha escola, em que a única coisa errada que detectaram é que “faltam muitos papéis”.
Ah, os papéis! Tudo no ensino em Portugal se parece resolver com mais um papel…Uma ficha, uma grelha, uma planificação, um plano, etc. Servem de alguma coisa?! Não importa! O que importa é que estejam nos dossiês. Para quê? Para nos protegermos…Para nos protegermos dos pais, dos recursos, da inspecção, …
Os professores estão cansados desta “política de medo” e querem recuperar um pouco da sua auto-estima e do amor pelo simples acto de ensinar.
E não toleram que se queira aplicar à avaliação de professores, a mesma política que o ministério tem aplicado para resolver os muitos problemas do ensino em Portugal: facilitismo!
O ministério insiste em mascarar as deficiências do nosso sistema de ensino baixando, de forma evidente e cientificamente inquestionável, o nível de exigência dos exames nacionais, de forma a conseguir resultados que impressionem a opinião pública. Tudo em nome da tal cosmética...
Evidentemente que o falhanço e o erro do ministério foi pensar que os professores iriam tolerar e engolir este mesmo princípio, aplicado à avaliação do seu desempenho; o pensamento deles foi o de sempre: “os professores preenchem a grelha, não resmungam pois estão habituados e porque vão vender a sua honra profissional a troco de um Bom…”
Pois bem, enganaram-se! Até porque a avaliação é apenas a gota que fez transbordar o copo.
Por isso, por mais que o ministério nos queira “corromper”, comprando a nossa rendição a troco da simplificação do sistema de avaliação, os professores não irão ceder. Porque o que está em causa são anos e anos de “políticas de facilitismo” e de “burocratizar para nada resolver”.
É essencial que a sociedade portuguesa compreenda que se está a viver um momento histórico único, o momento em que se decide sobre a credibilidade do ensino público português.
Não é apenas a ministra e a sua equipa que estão em causa, nem sequer a famigerada “avaliação docente”, mas sim anos e anos de políticas que estão a levar ao fundo o nosso ensino e, com ele, o próprio futuro da nação.
Se desistirmos, a história não terá contemplações para nós, pois teremos desperdiçado a oportunidade de mudar o rumo dos acontecimentos e permitir que o ensino público tenha futuro em Portugal.
O capitão Salgueiro Maia, a propósito da situação que se vivia em Portugal antes do 25 de Abril, terá dito um dia: “Há o estado da democracia, há o estado da ditadura e há o estado a que tudo isto chegou!”
Assim está o estado da educação neste momento. É do futuro dos nossos filhos e do nosso país que se trata e de não de uma simples embirração com a ministra do sector ou um prurido a qualquer forma de avaliação.
No geral, não tenho razões para acreditar que haja mais corrupção, incompetência ou mediocridade entre os professores, do que na restante sociedade portuguesa. Bem pelo contrário!
Dêem-nos paz para trabalhar e um pouco de respeito, se faz favor.
Obrigado.
P.S. - Ao que parece, ontem, dois secretários de Estado terão insinuado ser os professores os instigadores das lamentáveis manifestações de alguns alunos, com recurso ao arremesso de ovos.
Sei bem que a maioria dos professores, pessoas com um mínimo de educação e sem qualquer vocação para bandidos, se limita a "instigar" os seus alunos a estudar e a que compreendam que para ter sucesso na vida é necessário muito esforço e dedicação.
Alguns, mais ousados, "instigam" os seus alunos a pensar pela sua própria cabeça e a tentar mudar o mundo. No final de uma determinada aula de Formação Cívica, como aqui escrevi na altura, disse a uma aluna que "uma única pessoa pode mudar o mundo".
Espero não lhe ter mentido. E, se o fiz, foi sem intenção e peço desculpa por acreditar em utopias...
P.S.S. - Decidi não abrir a "caixa de comentários" para este texto, pois ele é, sobretudo, um desabafo de carácter pessoal. E para não gerar aqui uma "discussão" à volta dos temas específicos da educação, desviando a atenção das outras causas da "sombra verde".
Mais do que nunca, obrigado pela paciência de lerem os meus escritos...