‘A nova área central da Portela, afirma-se como deslocação da continuidade natural de Lisboa para o extremo do planalto(...). O extenso vazio central configura um novo espaço público que articula os desejos de continuidade dos corredores ecológicos há muito planeados, na configuração de um intenso vazio, que se afirma em contraste com um intenso edificado que se dilui progressivamente até ao novo limite do planalto da Cidade, em domínio dos amplos vales agrícolas dos rios Trancão e Tejo.’
A possibilidade/previsibilidade da saída do aeroporto da Portela nos próximos 12 anos exige definição de objectivos para o destino a dar a esse "enorme bocado de cidade".
Não deixa de ser também um motivo de entusiasmo para quem sonha com uma cidade com melhor ambiente urbano o que, entre outras coisas, significa melhor ar, melhor mobilidade, melhor urbanismo e natureza (plantas, animais, água, terra...) melhor integrada no seu interior.
Melhorar o ambiente urbano é um dos factores que tem sido decisivo para todas as cidades que têm contado/querem contar com a instalação de actividades de alta qualificação para se desenvolverem.
Seria bom que uma das premissas do desenho urbano e da filosofia da intervenção para a Portela pós novo aeroporto fosse a valorização e o reforço da estrutura verde, nomeadamente com a criação de percursos facilitando as deslocações a pé e de bicicleta, no interior do espaço (plano) e ligando o melhor possível grandes espaços verdes pré-existentes ( 1 - Viveiros Olivais/Vale do Silêncio; 2 - Áreas verdes de protecção da 2ª Circular/acessos a Bairro dos Olivais e Parque da Bela Vista; 3 - Mata de Alvalade; 4 - LNEC/Hospital Júlio de Matos; 5 - Quinta das Conchas; 6 - Parque Oeste; 7 - Parque Periférico/Coroa Periférica Urbana/ QQ. Coisa Verde Periférica).
O primeiro Plano Director de Lisboa, também conhecido por Plano De Groer (o seu autor/coordenador), sugeria que as zonas de protecção do aeroporto podiam servir como terrenos de jogos e de desportos. De pasto serviram certamente, por muitos bons anos.
Terrenos junto ao aeroporto da Portela, fotografados por Arnaldo Madureira e Artur Goulart, 1960, Arquivo Municipal de Lx
O Plano Director dos anos 60/70 considerava que se devia prever a desafectação dos terrenos em que se implantava o aeroporto, como possível e desejável.
O que é indiscutível é que esse cenário (que estranhamente, pouco interesse e debate provocou até agora) representa a possibilidade de dar um salto gigante na qualidade de vida de Lisboa (e não só) e de "coser" uma parte da cidade dividida por uma enorme infraestrutura.
Nota lateral: voo mais baixo, mas mesmo assim alto, seria conseguir acabar entretanto com dois dos maiores bairros de barracas ainda existentes (Qª da Serra e Bº da Torre - a vermelho), que marcam presença à saída da cidade.