Plantas
Naquele Tempo
 
Sob o caramachão de glicínia lilaz 
As abelhas e eu 
Tontas de perfume 
...
Lá no alto as abelhas 
Doiradas e pequenas 
Não se ocupavam de mim 
Iam de flor em flor 
E cá em baixo eu 
Sentada no banco de azulejos 
Entre penumbra e luz 
Flor e perfume 
Tão ávida como as abelhas 
Sophia de Mello Breyner Andresen  
  
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Como Uma Flor Vermelha
  À sua passagem a noite é vermelha, E a vida que temos parece Exausta, inútil, alheia.  Ninguém sabe onde vai nem donde vem, Mas o eco dos seus passos Enche o ar de caminhos e de espaços E acorda as ruas mortas. Então o mistério das coisas estremece... 
  
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Nestes Jardins De Abril Em Que Respiras.
 Há jardins invadidos de luar Que vibram no silêncio como liras, Segura o teu amor entre os teus dedos Nestes jardins de abril em que respiras.   A vida não virá - as tuas mãos  Não podem colher noutras a doura  Das flores baloiçando ao vento leve.... 
  
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A Infância Antiga
                  (....)                   Desgarrada era a voz das primaveras                   Buscarei como oferta a infância antiga                  Que mesmo tão distante e tão perdida                  Guarda em si a semente que renasce      ... 
  
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Breve Encontro
 Este é o amor das palavras demoradas Moradas habitadas Nelas mora Em memória e demora O nosso breve encontro com a vida  Sophia de Mello Breyner Andresen in "O nome das coisas"... 
  
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Os Troncos Das árvores
 Os troncos das árvores doem-me como se fossem os meus ombros Doem-me as ondas do mar como gargantas de cristal Dói-me o luar como um pano branco que se rasga.  Sophia de Mello Breyner Andresen... 
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