Plantas
Requalificar = Destruir
As duas primeiras imagens deste texto referem-se ao que está a acontecer, por estes dias, no Parque Municipal de Loulé. Podem ler mais sobre esta "requalificação" no blogue da Árvores de Portugal, num texto assinado pelo Miguel Rodrigues.
Nesse texto, tive oportunidade de escrever o seguinte comentário:
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Estão Convidados...
É já no próximo Sábado, dia 30 de Outubro, que se realiza a actividade Árvores e Ecologia Florestal da Reserva da Faia Brava (folheto PDF), uma organização conjunta da Árvores de Portugal e da Associação Transumância e Natureza....
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Contra A Infâmia à Solta Nas Ruas De Sintra
A propósito do que se tem passado em Sintra, no corrente ano, no que concerne à poda de árvores ornamentais, a Associação Árvores de Portugal e a Quercus — Associação Nacional de Conservação...
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Marcadas!
Em Sintra, uma vez mais! Por favor, assinem e divulguem a petição em defesa das árvores de Sintra. Vamos impedir o poder municipal de Sintra de continuar a ignorar as aspirações justas dos seus munícipes, em usufruir de um ambiente de qualidade....
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Árvores De Portugal - Como Colaborar
Carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.) - Aldeias de João Bragal (Guarda) Por motivos de funcionamento interno da própria Árvores de Portugal, ainda não estamos em condições de aceitar inscrições para sócios. Esta é uma questão que contamos...
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Here Comes The Sun...(adenda)
National Botanic Gardens - Dublin Mais duas boas notícias relacionadas com árvores: - O prazer de constatar que não sou o único a ter uma maternidade/infantário de árvores na varanda (admirar outras experiências aqui e aqui); - As obras do Parque...
Plantas
"Há aqui duas coisas que me causam perturbação, a primeira ao nível das intenções por detrás deste tipo de projectos, ditos de “requalificação”, e a segunda, obviamente, ao nível do modo como as obras são implementadas no terreno.
Desde logo, incomoda-me, e não consigo compreender, juro que não consigo, esta necessidade, permanente e premente, de requalificar tudo o que é jardim, por esse país fora. Parece que a um jardim, para atrair as pessoas, já não basta ter árvores e sombras. Isso é passado…Agora, ao que parece, os jardins têm que ser modernos, o que implica a construção de uma série de equipamentos, tudo à conta da amputação do espaço para o verde.
Outra coisa que roça o surreal é esta queixa de um jardim ter excesso de ensombramento! Mas que diabo é o excesso de ensombramento num jardim?! Não é para dar sombra que se plantam as árvores? Não será esse o objectivo de um parque, especialmente numa cidade com clima mediterrânico, com centenas de horas de sol por ano?
Eu diria que o problema das ruas e dos jardins em Portugal é precisamente o oposto, ou seja, a insuficiência de sombras derivada do hábito de estarmos permanentemente a rolar as árvores ornamentais. Fruto dessas práticas selvagens, as nossas árvores urbanas mais não têm do que copas raquíticas, nunca chegando a atingir o seu desígnio: maravilharem-nos com o perímetro de frescura das suas sombras.
E o que acontece quando, num parque, estas escapam a tão triste fim e chegam ao seu estado adulto, com a forma que a natureza lhes deu? Malvadas que dão muita sombra e é preciso podá-las…ou resolver logo o problema pela base e cortá-las! Excesso de ensombramento?! Não consigo parar de pensar no absurdo deste argumento.
Dublin
De repente, lembro-me dos jardins da Irlanda. Num país com escasso número de dias de sol, onde um dia de Agosto de céu encoberto e 20ºC é um excelente dia de Verão, e penso como seria ridicularizada a ideia de se querer cortar as árvores dos jardins por excesso de ensombramento.
Lembro-me de um magnífico jardim no centro de Dublin, com árvores enormes, com pessoas almoçando sobre os relvados, aproveitando a escassa luz de um dia de verão irlandês, e nada de minigolfes ou de parques de desportos radicais a quebrar a paz e o sossego daquela pausa vespertina. Que também por lá haverá parques de desportos radicais ou minigolfes, não duvido, mas não às custas de amputar espaços verdes.
Dublin
O único equipamento extravagante que esse parque tinha era um coreto, onde uma banda tocava perante dezenas de pessoas que faziam tempo, após o almoço, para regressarem ao trabalho e perante turistas, como eu, que se questionavam porque tal imagem não seria possível num jardim português.
Existe uma qualquer fobia que afasta uma maioria de portugueses dos nossos parques, um qualquer incómodo no contacto com o verde da natureza. É ridículo pensar-se que as pessoas passarão a frequentar um parque porque se cimentam os caminhos ou que se sentirão mais seguras com iluminação cénica, por debaixo das copas das árvores.
A segurança cria-se com guardas que zelem por quem frequenta esses jardins e que impeça actos de vandalismo; os hábitos de visitar e usufruir de um parque não são fáceis de criar, mas podem-se organizar eventos culturais, por exemplo, que criem uma rotina de visita a esses espaços. Ou a instalação de circuitos de manutenção, de baixo impacto visual, que fomentem a prática desportiva.
E depois há todos os outros portugueses. Aquela minoria, à qual pertenço, e à qual bastam as árvores num jardim; e a maioria, a qual nunca irá a um jardim a menos que aí estacionem um centro comercial!
Mas há ainda o segundo lado desta questão, ou seja, o modo como as obras estão a ser feitas. Acaso foi estudado o efeito que a abertura destas valas terá na saúde e, logo, na segurança, destas árvores? Foi feito algum estudo sobre esta matéria? Se sim, qual o nome da entidade que o executou e quais as suas conclusões? Foram propostas medidas de minimização para o impacto das mesmas nas árvores e na paisagem?
Claro que haverá sempre o argumento que as obras tinham que ser feitas assim e que não podiam ser feitas de outra maneira. Falemos então de custos/benefícios.
Será que os pretensos efeitos benéficos que esta intervenção trará ao Parque de Loulé compensarão os danos causados? Se sim, dêem-me um exemplo, em Portugal ou no estrangeiro, um único exemplo, de uma intervenção em que o corte de árvores ou a construção de minigolfes, tenham tornado um parque mais seguro e mais visitado.
Acaso alguém imagina um cenário de guerra como este, no nova-iorquino Central Park? Alguém imagina os nova-iorquinos a aplaudirem o corte de árvores e a verem o seu parque esventrado por maquinaria pesada?
O Parque de Loulé, como a maioria dos nossos jardins mais antigos, precisam de duas coisas muito simples: jardineiros, que os cuidem e evitem a imagem de desleixo causada pelo crescimento de matos e infestantes, bem como a acumulação de lixo, e de vigilantes, que os tornem em locais mais seguros, de dia ou de noite, para quem os frequenta.
Toda a modernice que estas ditas “requalificações” encerram não é mais do que saloiice pegada de quem não conhece os grandes jardins e parques do mundo.
Excesso de ensombramento?! Francamente…"