Teve início a 29 de Agosto, a segunda época da Campanha “Um Milhão de Carvalhos para a Serra da Estrela”, iniciativa dinamizada pela Associação dos Amigos da Serra da Estrela.
As premissas desta campanha são bem simples e visam ajudar a reflorestar parte do Parque Natural da Serra da Estrela, nomeadamente algumas das zonas que pertencem à bacia hidrográfica do Alto Zêzere, com vista a tentar diminuir os efeitos da erosão gerados em parte pelo grande incêndio de Agosto de 2005.
Trata-se de algo essencial, por vários motivos, mas em particular para garantir na origem a qualidade da água deste rio que fornece uma parte muito significativa dos portugueses (incluindo os que residem na Área Metropolitana de Lisboa) e garantir a preservação ambiental e paisagística desta zona e, em particular, do Vale Glaciar do Zêzere.
Recorde-se que este incêndio veio, de alguma forma, refrear o entusiasmo de todos aqueles que acreditavam e trabalhavam para uma candidatura deste vale a Património Mundial da Humanidade. No entanto, tal não pode constituir motivo de descrença no futuro e por certo que um trabalho meticuloso e persistente, poderá vir a fazer com que esse objectivo seja de novo possível.
A campanha “Um Milhão de Carvalhos para a Serra da Estrela” baseia-se num princípio muito simples, ou seja, a de que todos, através do voluntariado, podem ajudar a reflorestar esta Área Protegida. Desta forma, quando a campanha surgiu no ano transacto, solicitou-se a todos os interessados que procedessem à recolha das sementes (bolotas) da espécie arbórea mais característica das florestas autóctones da Serra da Estrela – o carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.); ou que, posteriormente, colaborassem na respectiva plantação.
Este apelo foi particularmente dirigido às escolas, como forma de contribuir para a educação ambiental dos jovens portugueses, ajudando a fomentar nos mais novos o amor e a ligação à floresta.
Deste modo, houve mais de 1500 participantes e várias dezenas de escolas envolvidas. O entusiasmo gerado à volta desta iniciativa foi tal que acabou por arrastar não apenas participantes a nível individual e escolas, como várias outras entidades (Escuteiros, Associações de Ambiente e de Montanha, Sapadores Florestais, Associações de Agricultores e de Produtores Florestais) e, inclusivamente, organismos do Estado, como o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) ou a Força Aérea Portuguesa.
Apesar de ter sido o ano de arranque desta iniciativa, o que motivou que a mesma tivesse que ser previamente divulgada, tendo até que ultrapassar outras dificuldades como a escassez de sementes, no total (entre bolotas e árvores oferecidas pelo PNSE), foram plantadas perto de 50 000 plantas.
Para este ano os objectivos são mais ambiciosos e pretende-se ultrapassar os números alcançados no ano anterior, diversificando ainda o leque de espécies a plantar (embora todas elas autóctones da Serra da Estrela e características dos solos/altitude/clima a que vão ser plantadas). O rigor que se pretende é máximo, existindo inclusivamente o cuidado de delimitar as zonas de recolha das sementes, como forma de garantir que caso existam características genéticas específicas das árvores da região, as mesmas não sejam adulteradas com a introdução de sementes e plantas de outras zonas.
Ao nível da logística tudo está planeado ao pormenor, para orientar os que queiram proceder à recolha das sementes ou para os que, pelo contrário, prefiram participar na subsequente fase da plantação das mesmas. Foi inclusivamente conseguido para o presente ano, o apoio de uma grande superfície comercial que através do seu sistema de refrigeração irá garantir a conservação em condições ideais das sementes até ao momento da plantação.
O que fica a faltar é apenas a participação no presente ano de ainda mais jovens e escolas. Porque se é verdade que a iniciativa está aberta a todos, dos 8 aos
Eu sou professor e sei por isso que é no início de Setembro que se planeiam as actividades a desenvolver ao longo do ano lectivo. Sei bem das dificuldades que sentimos para, muitas vezes, criarmos projectos que se adaptem a algumas das áreas curriculares ou mesmo que se enquadrem de forma interdisciplinar nos projectos curriculares de turma. Ora aqui está uma iniciativa que, entre outros aspectos, permite desenvolver várias competências, educar para a cidadania e ainda aumentar o conhecimento dos jovens sobre aspectos da flora da Serra da Estrela. O entusiasmo dos que participaram no ano passado deveria ser o suficiente para cativar outros a repetir a experiência. E depois, que melhor actividade do que permitir às crianças plantar com as suas próprias mãos uma bolota ou uma planta, para desenvolver nelas o amor pela floresta?
Por outro lado, em resultado desta campanha, o seu principal rosto, José Maria Saraiva, recebeu no passado dia 27 de Julho, o Prémio Nacional de Ambiente 2006/2007 atribuído pela Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente, que comprova os méritos, o rigor e o impacto desta iniciativa na sociedade portuguesa.
Esta distinção foi, infelizmente, ignorada por grande parte dos órgãos de comunicação social, que só se interessam pela floresta quando a vêm ser devorada pelas chamas. Não que o José Maria Saraiva necessite desse tipo de exposição mediática, mas essa divulgação do prémio seria uma forma de prestar homenagem a todos aqueles que se empenharam e deram algum do seu tempo a esta iniciativa, bem como ajudar a fomentar uma maior participação futura.
Alguns poderão argumentar que a sociedade civil está a fazer o papel que compete ao Estado. Não discordo. Mas eu prefiro ver antes os sinais de mudança duma sociedade civil que já não se limita a esperar pelo Estado central e que ela própria é capaz de produzir iniciativas de qualidade que, como neste caso, acabam por arrastar organismos do próprio Estado.
Outros poderão argumentar ainda que a floresta portuguesa sofre de inúmeros e complexos problemas e que não são iniciativas isoladas como esta, ainda que bem intencionadas, que os irão resolver. Esta campanha não pretende resolver (todos) os problemas da floresta nacional ou mesmo os do Parque Natural da Serra da Estrela. Visa, isso sim, dar visibilidade a esta problemática, em particular a que se refere aos problemas da erosão causados pelos inúmeros incêndios que afectam a Serra da Estrela, ajudando a criar laços duradouros entre os que aqui vêm dar um pouco do seu tempo e esforço e esta Área Protegida. Só se pode amar o que se conhece e, como disse o José Maria Saraiva, todos os que participaram deixaram algo de si na Serra da Estrela.
Venha pois deixar algo de si à Serra da Estrela, algo de positivo.