Plantas


aeonium tri-tabuliforme (tetra)
aeonium (tri)tabuliforme

"Acho que foi no início da Primavera. Sei que um pássaro cantava e outro não. Existem sempre pássaros que não cantam no início da Primavera.
Voltou a casa para buscar o livro que andava a ler, pois sem um livro ao pé de si sentia-se sozinho. Costumava dizer que os livros lhe faziam mais companhia do que as pessoas e do que os pássaros que cantam, até dos que só cantam no Inverno.
Gostava sempre das palavras que lia, de todas elas, porque o divertiam e lhe mostravam coisas que desconhecia e gostava de as repetir em silêncio ou em alta voz, trocando-lhes a ordem, numa espécie de jogo de possibilidades, tentando, claro está, manter a coerência do discurso. Mas ele também sabia que as palavras eram seres especiais, com personalidade e vontade própria, que se renovam e frutificam e, tantas vezes, tranquilizam e consolam.

Dizíamos nós que Março ainda estava na lembrança e de Abril se esperavam as anunciadas águas, quando se apercebeu de que não encontrava em nenhum lado o livro que o tinha feito voltar a casa. Não é possível, pensou, ninguém lá entrou em casa e a literatura, por muito viva que seja, não tem pernas, gracejou consigo mesmo, tentando afastar a angústia do momento.
Sentou-se por um momento no sofá, a que ternamente chama sofá-cama, não que o dito sofá possua tais intrínsecas características, mas porque a cama lhe tem imensos ciúmes, e tentou uma vez mais lembrar-se de onde poderia ter deixado o livro, não podia estar longe. Tinha a mesma relação com os livros que se tem com um namoro recente, não suportava a ideia de estar afastado dele durante um dia que fosse.
Poderemos nós ser reféns das palavras? pensou. Do que dizemos? Do que ouvimos?

Não podia gastar muito mais tempo nesta sua demanda e, deveras contrariado, saiu. Desta vez, saía de casa sobrecarregado. Subrepticiamente, dentro da sua cabeça, preparava-se uma revolução, amotinavam-se as palavras. Ele não estava habituado a nada disto, sempre tinha sido ele quem detinha a batuta, quem conduzia as ideias, mas as palavras tinham ficado à solta e tornaram-no seu refém, vestiram-se a rigor, traje marcial, comunicados à hora certa e apenas para os média, garbosas, elegantes, respeitadoras das patentes...
Foi um inferno durante um tempo, que lhe pareceu eterno, até que o Verão deixou de ser uma miragem e a Dúvida se juntou às fileiras daquela guerra já sem sentido. Por fim, percebeu que é impossível controlar as ideias e querer ser maior do que todas as palavras.

Ouvimos dizer que começou agora a escrever o seu segundo livro."

Lisboa, 9 de Março de 2010





- Poema / Recuperando Cacto Novamente.
Bom dia pessoal!!! A frase para refletir do dia Em tempos de embustes universais, dizer a verdade se torna um ato revolucionário.George Orwell E hoje trago mais um poema com um dos títulos que foram palpitados pelos amigo(as) ...Este título foi...

- "mais Uma Tarde Sem Jeito Nenhum" - Ix
Por entre conversas de namorados, discussões futebolísticas e acalorados discursos sobre o mau estado da Nação, lá conseguiu escrever duas páginas que, de tanto anotadas e riscadas, pouco sentido poderiam ter para qualquer outra pessoa que não...

- "uma Tarde Sem Jeito Nenhum" - Vii
Andou apenas uma centena de metros e parou sem saber realmente qual o motivo porque parara. À partida, não se tinha esquecido de nada, não encontrou ninguém conhecido, não sentiu que o devesse fazer, nem tinha chegado a nenhum local minimamente...

- “mais Uma Tarde Sem Jeito Nenhum” - I
“Mais uma tarde sem jeito nenhum”, pensou ele e tinha razão para pensar assim. As horas sucediam-se pateticamente, sem sequer darem pela sua existência. Aliás, essa é uma das características das horas, a de ignorarem em absoluto o que...

- Apontamento 24/04/08 11:07 Pm
Procuro sempre. Imagino que caço as palavras, obrigando-as a desfilar segundo uma ordem especial, numa efectiva demonstraçao de soberania. Por entre todas as palavras, como também por entre o povo, existem algumas que sao fortes, corajosas, inconformadas...



Plantas








.