Por entre conversas de namorados, discussões futebolísticas e acalorados discursos sobre o mau estado da Nação, lá conseguiu escrever duas páginas que, de tanto anotadas e riscadas, pouco sentido poderiam ter para qualquer outra pessoa que não ele próprio. O Tempo, na escrita, sempre foi para ele um tema de eleição. Sentia que, escrevesse o que escrevesse, nunca dele se afastaria porque, para as palavras existirem, para que as possamos ouvir ou ler, para que em nós façam surgir qualquer tipo de sentimento, necessitamos permanentemente dele, do Tempo, como incontornável suporte para a vida. Aliás, a maioria das palavras, escritas ou mesmo ditas, remete-nos para o Tempo e para o Espaço, “Tempo e Espaço”, pensou, “Espaço e Tempo”, “E” e “T”... Ficou mais algum tempo a pensar no que lhe sugeriam aquelas letras e, como se fosse um jogo, resolveu procurar as palavras que, nas frases soltas que já tinha escrito, o remetiam para essa problemática de “E” e “T”. Chegou num ápice à conclusão de que já esperava: mais de metade das palavras que escrevera estava impregnada de Tempo, prenhe de Tempo, numa espécie de simbiose eterna, recriação permanente. E reescreveu-as uma a uma, até ficar cansado. Horas. Sucediam-se. Ensaiou. Saíam. Passava. Escreveu. Pensou. Tocou. Consumia. Pousou. Abandonou. Momento. Iniciou-se. Espera.
Tudo o colava ao Tempo e o tempo colava-se a ele, como um caprichoso parasita.
Voltou para casa, percorrendo cada metro, horas antes palmilhado. Tinha traçado mentalmente, a esquadro e compasso, todas as rectas, curvas e até hipérboles, que em sentido inverso antes desenhara. No entanto, exceptuando distância relativa, nada conseguiu subtrair, nem tempo, nem sensações, nada. "Na Vida não há subtracções, apenas somas, mesmo que sejam somas de perdas", pensou. Só quando fechou a porta de casa é que se apercebeu de que tinha feito o percurso sem se ter lembrado de olhar para as indiscretas janelas, penduradas naquela fachada de azul claro. Sentiu-se tremendamente volúvel. Pousou a mochila no chão, tirou de lá o caderno, que colocou na pequena mesa que está perto da janela da sala e dirigiu-se para o quarto, fingindo que estava cansado. Na realidade, o que lhe apetecia mesmo era dormir e gastar tempo e não lhe interessava os conselhos do travesseiro ou o poder reparador do sono, apenas desejava "Não Estar". Era já recorrente este seu desejo, principalmente em situações de encruzilhada, nos momentos em que as opções se assemelham a rifas com prémios dúbios, que somos obrigados a levar connosco. Cansaram-se dele as horas e acabou finalmente por adormecer.
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