Passavam alguns minutos depois das dez e o dia tinha saído há pouco. Deveria ter ficado em casa, até porque estava tudo arrumado de uma forma aleatória, mas não quis. Agosto era o próximo mês, mas o calor tinha atingido já os limites suportáveis, pelos que menos suportam os limites que o calor atinge. Ao menos na rua, embora o calor seja o mesmo que em casa, durante a noite não se sufoca tanto. Andou alguns quarteirões a pé, sem destino e, quando deu por ele, estava em frente a um portão de jardim. Entrou, sentou-se num banco que lhe pareceu convidativo e esperou. Esperou, até que o esperar lhe deu sono e adormeceu, como quem adormece numa banheira. Sem saber quanto tempo tinha passado, acordou. Pestanejou, porque os olhos pesavam-lhe tanto quanto o corpo dorido do calor e julgou sonhar. Mesmo aos seus pés dormia, deitada na relva, uma mulher. Endireitou as costas nas costas do banco e, sem saber que fazer ou se deveria fazer alguma coisa, esperou muitos minutos pelo seu acordar. Não aguentando mais a espera, levantou-se e saiu do jardim, não sem olhar para trás a cada dois passos que dava.
Voltou durante anos, porque voltar é praticamente inevitável, até mesmo ao erro, até que um dia adormeceu na relva e, sem saber, também ele esteve aos pés dela. Quando acordou, viu-a sair do jardim e nessa altura percebeu que também tinha estado no sonho dela.
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