Em relação ao corte de árvores no Parque Municipal da Mêda que
ontem aqui foi referenciado, foi publicada na edição de hoje do
Diário XXI a seguinte notícia:
"
A Câmara de Mêda está a levar a cabo um plano de abate e limpeza das árvores do parque municipal, motivado "por questões de saúde pública", explicou ao Diário XXI Fernando Lopes, assessor do presidente daquela edilidade, depois de uma habitante de Mêda se queixar, ao Diário XXI, do corte de cinco plantas. O plano de abate surge na sequência de "inúmeras queixas de habitantes sobre o pólen que as árvores largam no Verão", esclareceu, acrescentando que o programa de abate está a ser efectuado por "uma empresa especializada ligada à Fundação Serralves". Iniciado na última segunda-feira, o plano de intervenção prevê o abate de árvores ocas, assim como a limpeza de outras, adianta Fernando Lopes. "São já muito antigas e imponentes, mas se causam problemas de saúde às pessoas temos de os resolver e só estamos a cortar as que estão podres e em fim de vida", concluiu."
Em relação a esta notícia tenho as seguintes considerações a fazer:
1º) Saúdo a Câmara Municipal da Mêda por prestar esclarecimentos públicos em relação a este caso o que, apesar de tudo, ainda é uma excepção entre as autarquias portuguesas; saúdo, uma vez mais, a atitude cívica da munícipe da Mêda que denunciou esta situação e que, pela sua acção, suscitou a necessidade desta ser devidamente explicada.
Agradeço ainda ao Sr. Paulo Moura por alguns esclarecimentos prestados acerca deste caso.
2º) Não questiono a competência técnica dos arboricultores ao serviço da
Fundação de Serralves. Se os mesmos garantem que apenas as árvores em risco de cair estão a ser cortadas, não tenho nada a opor a essa acção, por mais que me custe ver árvores de grande porte a ser abatidas.
Reconheço que no espaço urbano a segurança das pessoas e dos seus bens deve ser colocada em primeiro lugar até porque, no dia em que uma destas árvores caísse e mesmo não provocando vítimas ou quaisquer outros danos, tal serviria de desculpa para
decepar todas as outras árvores.
Compete às autarquias fazer uma gestão correcta do seu património arbóreo, contratando técnicos credenciados para tal, como forma de garantir o máximo de longevidade às árvores e reduzir ao mínimo o perigo de queda das mesmas.
Aliás essa é uma das causas deste blogue, ou seja, que a gestão das árvores no espaço urbano seja feita exclusivamente por técnicos especializados na manutenção de árvores ornamentais, o que parece ser o caso na Mêda.
3º) Em relação às alergias como motivo para cortar árvores, permitam-me que discorde pelos seguintes motivos:
a) As árvores são um garante da qualidade do ar nas cidades. Cito novamente uma passagem de uma notícia do
Diário de Coimbra: "(...)
O parecer emitido então pela Provedoria do Ambiente e Qualidade de Vida Urbana de Coimbra, a que estavam anexados outros dois, de Jorge Paiva, do Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra, e de Ana Todo Bom, presidente cessante da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia, comprovava que as causas das alergias não estavam apenas na libertação de pólen, frutos e sementes pelas plantas e que, apesar de se assistir a «um aumento das reacções alérgicas», era «a poluição resultante do tráfego automóvel que exponenciava» este mesmo efeito alérgico."
Dito por outras palavras, o pólen das árvores, como o de muitas outras plantas, pode provocar reacções alérgicas, mas é a poluição que potencia os efeitos práticos ao nível do aparecimento de alergias. É mais que sabido e indesmentível que as árvores desempenham um papel insubstituível no combate a essa mesma poluição.
b) Se pretendêssemos eliminar todas as árvores constantes da lista das famílias polínicas alergisantes em Portugal (segundo dados dos boletins polínicos da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica), então teríamos que eliminar das nossas cidades (e já agora dos campos e matas circundantes às mesmas) as seguintes espécies: áceres, bétulas, amieiros, ciprestes, zimbros, carvalhos, castanheiros, castanheiros-da-índia, nogueiras, oliveiras, freixos, ligustros, palmeiras, pinheiros, cedros, plátanos, salgueiros, choupos, teixos, tílias e ulmeiros.
Resumindo: teríamos que abater mais de 90% das árvores das nossas cidades, campos e florestas! Não me parece viável....
c) Concentremo-nos no caso dos choupos. No site da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica não existe informação específica para este género (Populus) mas existe para os salgueiros (género Salix), que pertencem à mesma família (Salicaceae).
E essa informação diz-nos que a alergenicidade do pólen destas espécies é baixa.
De onde virá então esta "embirração" com os choupos? Creio que a mesma deriva dos filamentos (semelhantes a algodão) que inundam o ar na Primavera e que servem para facilitar a dispersão das sementes destas árvores.
Deste modo, mais uma vez apelo a que Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica nos esclareça sobre a possível alergenicidade destes filamentos, para que os mesmos não continuem a estimular a fúria popular contra os choupos.
Por outro lado, as espécies de choupos mais frequentes em Portugal [Populus alba L., Populus nigra L., Populus x canescens (Ait.) Sm., Populus tremula L. e Populus x canadensis Moench] florescem na Primavera e não no Verão.
ADENDA: argumentação técnica que determinou a necessidade de abater os choupos do Parque Municipal da Mêda.
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