Voltando, e com bebê a tiracolo
Plantas

Voltando, e com bebê a tiracolo



Ando recebendo e-mails de leitores querendo saber por onde ando, o que me deixa muito lisonjeada, e dia desses também a querida Carol, do Minhas Plantas, me disse que anda com saudades de mim mas entra no De Verde Casa e só encontra uma lagarta velha de um post do ano passado. "Ju, você não posta mais?"

Sempre explico pra ela (e já repeti mil vezes, coitada), que ando vivendo a angústia de trabalhar nas mudas de árvores pensando que deveria estar no computador, e de trabalhar no computador angustiada por não estar nas mudas. O blog então…

É unanimidade na região que falta mão de obra, e nem precisa ser da especializada, não. Faltam todas, falta qualquer uma. Uns dizem que são os bolsa isso, bolsa aquilo que fazem as pessoas se acomodarem porque já estão ganhando o suficiente para viver. Outros dizem que quem trabalhava no campo foi para o ar condicionado das indústrias e não quer mais pegar pesado sob sol forte. A explicação certa não sei, o fato é que eu, que nunca escolhi trabalho - nem mesmo quando me mudei para a roça -, ando fazendo de tudo para tapar buracos. Até literalmente, quando ando por aí de enxada na mão movimentando terra.

O resultado é que a horta, as experiências ecológicas e a poesia de fotografar a vida em pequenos detalhes ficam para depois, porque o caminhão de substrato atolou na hora de sair do sítio, o flamboyant está quase desabando na casa do funcionário e o homem da motosserra não pode vir antes da chuva, o cano de irrigação do viveiro estourou na hora de desatolar o caminhão, o mecânico não vai mais entregar o carro hoje e… a Cuca pegou uma rolinha que acabou de cair do ninho!

A captura aconteceu quando eu estava quase saindo, com hora marcada, e é sempre assim. Sorte que a cachorra pega de levinho, acho que pra brincar um pouco com o bicho vivo antes de comer. Como aconteceu bem na minha frente, deu tempo de agarrá-la, abrir o focinho à força e salvar a rolinha criança, toda descabelada e molhada de cuspe. Para eu poder sair, a bichinha foi colocada dentro de uma caixa de transporte de gatos, que era a embalagem arejada mais segura que eu tinha, e passou o dia ali ao lado de quirera e um potinho com água, sem saber para que eles servem. Nem um grãozinho foi bicado, nada de água sumiu dali. Várias vezes durante a tarde fui até ela dar olhadinhas rápidas, pensando "mais um que vai morrer na minha mão".

Já salvei inúmeros passarinhos das mais diferentes situações de risco e a maior parte deles morreu. Os sobreviventes foram os que não tinham se machucado nada, encontrados no chão só em choque, com os olhos parados, sem piscar, mas inteiros e respirando bem. Esses, depois de uns minutinhos de uma topada leve no vidro da janela, por exemplo, logo "acordam" do choque e saem voando. Os que batem forte na janela (assunto para um post, um dia) ou passam um minuto na boca dos cachorros ou dos gatos, esses não têm chance. Sempre morrem, por mais que eu me dedique nos cuidados.

Mas dessa vez Rolinha chegou ao fim do dia viva, inteira, respirando bem e me olhando com reservas de lá do fundo da caixa de gatos. O que fazer? Era um filhote, sem dúvidas, e eu não tinha a menor ideia de como cuidar daquele bichinho. Sempre fui dos peludos, não dos penosos, só que dali em diante éramos eu e ela.

Continua.





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