Ensaio sobre a cegueira
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Ensaio sobre a cegueira


Começou a época da poda camarária pela Covilhã e esta "podite" aguda já fez vítimas, nomeadamente no Largo de S. João de Malta, Avenida 25 de Abril e zona do Bairro da Estação. Infelizmente, não trouxe a máquina fotográfica, mas sei que quando cá voltar não me vão faltar exemplos deste terrorismo doentio contra as árvores.

Na última edição do Notícias da Covilhã, sob o título "Tradições de Natal preservadas no Paul" é relatado que (talvez como prenda de Natal), uma empresa ao serviço da câmara municipal executou mais um desbaste (que o próprio autor da notícia classifica como radical) em várias árvores daquela vila.
Mais se acrescenta que este tipo de poda é exigida por uns. Resta saber quem são os uns? Serão os que se sentem incomodados pela sombra ou por não poderem ver a marquise em alumínio do vizinho? Serão os que se sentem incomodados pelo chilrear dos pássaros ou talvez pelos excrementos que largam sobre os automóveis? (e todos sabemos que o amor dos portugueses por carros supera em muito o que se sentem por pássaros ou arvoredos).
Depois também temos aqueles que simplesmente têm medo de que as árvores tombem em dias de temporal e, vai daí, entra em cena a moto-serra... segundo esta esperteza saloia pode-se concluir que "árvore bem podada fica melhor agarrada".

Ficaria mal se eu dissesse que o interesse individual de um cidadão (que tem todo o direito a não gostar de árvores) não se sobrepõe à defesa do património colectivo (no qual se inclui o património natural)? O receio a perder um voto sobrepõe-se à defesa do património arbóreo do concelho que é uma das responsabilidades de uma autarquia?

Como já me vão faltando os argumentos, deixo aqui os de Francisco Coimbra (ex- Vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Arboricultura) publicados no Jornal da Mealhada a 27/03/2002, no artigo intitulado "A propósito das "podas" da Avenida Dr. Manuel Lousada... SE AS ÁRVORES FALASSEM!!!" (e que transcrevo a partir do blogue Dias sem Árvores):

"As árvores que dignificam as nossas praças e avenidas e embelezam os nossos jardins e parques são um elemento essencial de qualidade de vida, autênticos oásis no "deserto" que são tantos dos nossos espaços urbanos actuais. E, no entanto, é por demais evidente a ainda quase absoluta ausência de sensibilidade para o papel da Árvore em Meio Urbano. (...)
De facto, é inacreditável como certos preconceitos sobre a poda de árvores ornamentais estão arreigados nos responsáveis pela sua gestão e manutenção. É frequente ouvirmos dizer, como justificação, que as "podas" radicais, ou "rolagens", rejuvenescem e fortalecem as árvores, ou que são a única forma económica de controlar a sua altura e perigosidade... quando, na verdade, devia dizer-se de uma poda o mesmo que de um árbitro: - tanto melhor quanto menos se der por ela! (...)
1. A poda drástica rejuvenesce a árvore?- NÃO! (...) O facto de, após uma operação traumática, as árvores apresentarem uma rebentação intensa- como tentativa "desesperada" de repor a copa inicial - não significa rejuvenescimento, mas sim um "canto-de-cisne", à custa da delapidação das suas reservas energéticas.(...)
2. Fortalece-a? - NÃO, a poda radical é um acto traumatizante e debilitante, uma porta aberta às enfermidades. (...)
3. Torna-a menos perigosa? -NÃO, estas "podas" induzem a formação, nos bordos das zonas de corte, de rebentos de grande fragilidade mecânica, pois têm uma inserção anormal e superficial no tronco. (...)
4. É a única forma de a controlar em altura? - NÃO, a quebra da hierarquia -que estava estabelecida entre os ramos naturalmente formados - permite o desenvolvimento de novos ramos de forte crescimento vertical, mas agora de uma forma desorganizada e muito mais densa! (...)
5. É mais barata? - NÃO, se a gestão do património arbóreo for pensada a médio e longo prazo!
(...
)"




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