Plantas
Há coisas fantásticas, não há?
Gosto de futebol.
Podia muito bem não gostar, mas gosto... Sou até sócio do Sporting Clube de Portugal, uma das muitas promessas que se fizeram em 18 anos de sofrimento, e sou sócio do Sporting Clube da Covilhã (embora neste caso específico, seja o meu pai quem paga as cotas e, logo, seja ele o verdadeiro sócio).
Mas não gosto quando oiço e leio sobre supostas ajudas do Estado ou da autarquia de Lisboa ao Sporting Clube de Portugal. Tal como não gostei de saber que a minha autarquia decidiu dar este ano, dos impostos de todos nós, 230 mil euros ao Sporting da Covilhã. O que, provavelmente, nem será muito comparado com outras autarquias.
Não se trata de ajudas à prática desportiva por parte da população, onde os clubes muitas vezes se substituem ao Estado, mas de ajudar a "manter" uma suposta equipa de futebol profissional. Trata-se de ajudar a "manter" essa equipa numa divisão (a de Honra) para a qual, essa mesma equipa, não dispõe de suficientes recursos económicos próprios.
Dito por outras palavras, preferia ver a minha equipa na 3ª divisão, mas sustentada apenas com o dinheiro dos seus sócios, do que vê-la artificialmente sustentada por dinheiros do erário público (ou por eventuais jogadas imobiliárias) na divisão de Honra ou na 1ª Liga.
Vem este preâmbulo a propósito do que se passa em Setúbal, onde se prepara a construção de uma mega-urbanização para 30 00 pessoas* (!), com o beneplácito da autarquia local. Esta urbanização ajudará a financiar, indirectamente, a construção de um estádio municipal cuja gestão será adjudicada ao Vitória Futebol Clube. Ah só um pormenor...Para fazer esta mega-urbanização é necessário destruir 1 200 sobreiros.
* Tantas ou mais pessoas do que as que vivem actualmente em cidades como Bragança, Vila Real, Guarda, Covilhã, Castelo Branco, Portalegre, Évora ou Beja, por exemplo.
Só dois apontamentos:
- O Vitória Futebol Clube já tem um estádio de futebol. Não tem dinheiro para o manter? Não tem dinheiro para o manter e simultaneamente suportar os custos de ter uma equipa na 1ª Liga? Pois bem, tem duas hipóteses: vive de acordo com os seus rendimentos noutra divisão inferior ou fecha as portas.
Pergunto-me se é lícito ajudar uma equipa através da especulação imobiliária? (Ah quanto não valerão aqueles terrenos onde está implantado o Estádio do Bonfim?)
(Alguns dos leitores que têm deixado comentários no Público ou no Portugal Diário, afirmam que o Vitória de Setúbal tem "direito" a estas ajudas porque o Estado terá feito o mesmo com outras equipas, aquando do Euro 2004. Fantástico! Já que ficámos com um conjunto de "elefantes brancos" numa série de cidades, como Aveiro ou Faro, vamos lá fazer o mesmo em Setúbal!).
- Por último, o sobreiro não é uma espécie qualquer. Tem uma importância crucial na prevenção da desertificação dos solos e sustenta o único sector industrial no qual o nosso país é líder a nível mundial.
Temos pois o lóbi do cimento cada vez mais rico, enquanto o país continua a divergir do resto da Europa nos principais indicadores económicos e de desenvolvimento humano. Dá que pensar... Há coisas fantásticas, não há?
É por tudo isto que à medida que aumenta a obsessão deste país pelo futebol, aumenta o meu desinteresse.
Comecei por dizer que gostava de futebol. Gosto cada vez menos e é provável que um dia deixe de gostar...
P.S. - Enviei um e-mail à Direcção-Geral dos Recursos Florestais a alertar para as intenções da Câmara Municipal da Covilhã, em relação a dois conjuntos de sobreiros no Tortosendo. Espero ter alguma resposta da DGRF neste caso, ao contrário do que aconteceu quando solicitei a classificação de algumas árvores.
Fiz ainda chegar o meu pedido de ajuda à Quercus e ao jornal "Público", para que investiguem, se todos os procedimentos legais estão a ser acautelados nesta situação.
Por vezes, as associações de ambiente e alguns jornais nacionais acabam por cumprir o papel de "fiscalização" que competiria ao próprio Estado. Não deveria ser assim, mas é...
A propósito desta situação decidi não escrever à Câmara da Covilhã. Uma pessoa cansa-se de não ter sequer direito a uma resposta.
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