Comemorou-se a 21 de março mais um Dia da Árvore. Por certo que se plantaram muitas árvores e muitos discursos de amor à árvore foram feitos nesse dia.
Ano após ano, continuam a plantar-se muitas árvores, nem sempre as espécies adequadas, nem sempre no local ideal. E gastam-se muitos milhares de euros do erário público a requalificar jardins ou a construir novos parques. Tal é o caso de cidades como a Covilhã onde, em parte ao abrigo do programa Polis, se requalificaram e inauguraram mais espaços verdes nos últimos 10 anos do que nos 50 anos anteriores.
No entanto, em pleno século XXI, apesar desta “febre verde”, o arvoredo urbano continua a ser tratado como na idade média. As justificações para as podas radicais são por todos conhecidas, a cantilena de que as árvores não podem ficar muito altas porque podem cair ou de que as podas dão força às árvores. Falsos argumentos sem qualquer fundamento técnico.
Há, adicionalmente, a desculpa de que as árvores têm que sofrer estas podas para não colidirem com a fachada dos prédios, com fios elétricos ou telefónicos, com postes de iluminação ou outro tipo de estruturas. Efetivamente, em certos casos, isso constitui um problema, que existe apenas porque, na hora de plantar a árvore, não se pensou no que iria acontecer daí a alguns anos. Mas mesmo nestes casos, há alternativas menos radicais, como a redução de copa. Não sendo possível, é preferível substituir as árvores por outras de menor porte ou por arbustos, do que sujeitar, ano após ano, as árvores à selvajaria da rolagem.
Existem ainda situações mais sui generis, como na Covilhã, onde mesmo as árvores que se situam em parques urbanos sofrem estes atentados. É caso para perguntar de que serve contratar os melhores arquitetos paisagistas, se depois a manutenção desses espaços é entregue a quem não tem a menor formação para fazer a manutenção de árvores ornamentais?
Quem me conhece do blogue A Sombra Verde sabe que desde 2006 já escrevi dezenas de textos sobre este assunto. Já esgotei os argumentos e sinto que, a cada texto, me repito. Ao longo deste tempo fui perdendo fé na pedagogia, apesar de acreditar que as novas gerações podem, e devem, ser educadas para compreender que estas práticas são erradas, pese embora seja difícil passar esta mensagem quando, nas escolas, estas práticas se repetem.
No entanto, apesar de não adepto de proibicionismos, começo a acreditar que a solução para estas práticas passa, em parte, pela aprovação de legislação que obrigue a que a poda de árvores ornamentais em espaço público apenas possa ser feita por empresas e técnicos credenciados. E digo “em parte” porque enquanto este for um problema cultural, ou seja, enquanto houver uma maioria de pessoas que acredita que estas práticas beneficiam as árvores, estas continuarão a ser praticadas em espaços privados, onde as leis não podem obrigar os cidadãos a podar, de forma correta, os seus arvoredos.
E o que pode fazer cada um de nós para ajudar a alterar este estado de coisas? Pode, por exemplo, escrever à sua autarquia protestando contra estas práticas. Porque quem não gosta de árvores, e são muitos, não hesita em pressionar as juntas ou as câmaras até conseguir o que quer: ou porque há uma árvore que lhe tapa as vistas da casa ou porque as folhas entopem as sarjetas; enfim, um sem número de motivos fúteis para decepar ou cortar uma árvore.
É chegada a altura de quem gosta de árvores se fazer ouvir. Se o fizerem estarão a por em prática um dos objetivos que levou à criação da associação Árvores de Portugal: tornar as pessoas mais ativas e empenhadas na defesa das árvores das suas vilas e cidades!
(Texto publicado originalmente no blogue da Árvores de Portugal.)