Passo a transcrever a mensagem que o leitor deste blogue Ljma aqui deixou acerca do texto "Os dias tristes":
"O meu vizinho da frente, com quem me dou bem, tinha três grandes choupos (acho eu que eram choupos) à frente da casa dele. No Outono, enchiam-me os escoadouros das águas pluviais de folhas. Na Primavera, era a casa que ficava cheia de uma espécie de algodão. Eu gostava daquilo? Não. Aquilo obrigava-me a limpar mais frequentemente. Mas as vantagens de ter o sol do meio dia cortado pelas grandes copas ultrapassavam, de longe, as desvantagens das folhas e do "algodão". Mas o vizinho teve que cortar os choupos, porque, segundo disse (e eu acredito), as raizes das árvores lhe estavam a estragar a canalização. Foi pena. A rua ficou mais triste. "Em primeiro lugar, queria saudar o espírito cívico do José e toda a ajuda que me tem dado na cruzada anti-podas e, em segundo lugar, reafirmar o que então lhe respondi, ou seja, que muitas destas situações resultam da falta de planeamento das câmaras:
- com frequência escolhem-se árvores que atingem facilmente um grande porte (e com grande desenvolvimento radicular), esquecendo a falta de espaço das sempre estreitas e acanhadas ruas das cidades portuguesas; bastaria, tão só, adequar a espécie a plantar ao espaço disponível para esta se desenvolver, deixando os choupos, as tílias ou os plátanos para zonas mais amplas, como os parques ou os jardins;
- em segundo lugar, muitas vezes também se planta um número exagerado de árvores e deixando pouco espaço entre as mesmas; daqui resulta que, passados alguns anos, o crescimento de umas começa a interferir com a copa das outras e depois...pois, já adivinharam, poda-se de forma radical! Bastaria plantar um menor número de exemplares e deixar que estes desenvolvessem as respectivas copas de forma natural...sem mutilações!
São questões básicas e que derivam da lusitana tradição de falta de planeamento.
Em relação ainda a estes choupos, duvido que esta poda tenha resolvido o problema (que era sobretudo ao nível das raízes), até porque estas podas debilitam as árvores dando origem a rebentos de grande fragilidade mecânica e permitem o desenvolvimento de ramos de forte crescimento vertical que crescem de uma forma desorganizada e muito mais densa.
Por último, acerca das alergias supostamente provocadas pelas árvores, quero relembrar o que aqui escrevi no texto "Salvem as árvores da minha cidade - Parte II":
"Há, por último, os que solicitam as podas porque as flores, o pólen, os frutos ou as sementes, lhes causam reacções alérgicas...vai daí, toca de podar! Excelente solução...excepto pelo facto de que a poda vai no ano seguinte aumentar a floração e, logo, a produção de frutos e sementes! Aliás, é por isso que as ditas "árvores de fruto" são podadas. Acrescento que, como é óbvio, tenho o maior respeito pelas pessoas alérgicas ao pólen das plantas, a minha mãe é aliás bastante alérgica ao pólen de uma planta que cresce vulgarmente nos muros das cidades e dos campos, a alfavaca-de-cobra (Parietaria sp.), e que lhe causa grandes transtornos de saúde.Aliás, algumas das plantas que causam maior número de alergias são as gramíneas, como os cereais, e não penso que se esteja a considerar a hipótese de deixar de plantar o trigo ou o centeio, com o qual fazemos o pão que comemos todos os dias! Além de que as pessoas tendem a esquecer que na base de muitas alergias estão precisamente muitas substâncias libertadas por várias indústrias e pelos automóveis! Mas é mais fácil descarregar nas árvores...as tais que nos fazem o favor de renovar o ar que respiramos."